segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cotas

Tema: Cotas para ingressar na faculdade


O iceberg brasileiro

O problema educacional do Brasil vem desde da educação infantil, onde as crianças não são educadas como deveriam. Elas não desenvolvem o pensamento crítico e criativo e muito menos as noções básicas das matérias escolares. O que acontece posteriormente é a aprovação automática em instituições públicas, ou seja, tanto os alunos capacitados quanto os não capacitados passam as séries escolares.
Ao ingressar no ensino médio, muitos desses alunos muito mal sabem ler e escrever. Prova disso, foi uma experiência pessoal, onde enquanto discente da graduação de fonoaudiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro pude presenciar e mesmo acompanhar o atendimento de alunos com dislexia (dificuldade de ler e por consequência, escrever) que se encontravam entre o 6º e 9º ano do ensino fundamental e não conseguiam sucesso em atividades simples como escrever o próprio nome ou ainda ler um título de livro.
O que mais preocupa é que esses alunos não estarão aptos a enfrentar um desafio de prestar o vestibular. Antes disso, a maioria terá desistido e os que persistirem perceberão a defasagem de sua educação escolar, no entanto não saberão o que fazer para mudar a situação.
Entretanto, não somente esses alunos participarão da disputa pelas cotas, mas outros alunos advindos do sistema privado. Há alguns anos, uma reportagem sobre esse assunto “cotas” levantou algumas questões.
Duas adolescentes moradoras do bairro da Tijuca concluíram o ensino médio no mesmo ano e na mesma instituição de ensino particular, ambas concorreram para mesma carreira e mesma universidade pública. Sendo que uma delas concorreu por via padrão e a outra pelo regime de cotas. A primeira obteve pontuação muito maior do que a segunda e ficaria em nona colocação. Já a segunda obteve uma pontuação ínfima e não seria classificada, porém na classificação final esta ficou em sétimo lugar e entrou para a graduação enquanto a primeira foi desclassificada.
Esse fato, nos faz questionar sobre o iceberg problemático da educação, onde só conseguimos enxergar a ponta, o que está para fora da água, o que pode ser visualizado, mas a verdade é que a problemática é infinitamente maior. Enquanto a educação básica não for resolvida, o sistema de cotas só servirá como um recurso para fechar algumas brechas em uma educação totalmente corrompida.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O Menino e o Amor 

Essa é a história de um menino. Um menino em busca do amor.

Desde pequeno possuía um desejo. Um desejo por que sonhou. Ouvia que não era fácil, mas mesmo assim não desanimou. O que ouvia mesmo foi uma frase que ficou: “Para fazeres medicina, deves ter muito amor”.

Ia bem na escola. O menino rápido no colégio chegou. Se quisesse seguir teu desejo, cedo teria de agir. “Acho que quero ser doutor”. Papai logo se animou, mas sem antes advertir “Meu filho, se queres ser doutor, seja! Mas faça por amor!”

Em uma indecisão pueril, logo o questionamento o tomou. “É isso que eu quero da vida! Na saúde praticar o amor”.

O menino envelheceu, no futebol e no videogame nunca mais jogou. Professor atencioso percebeu suas notas. Logo questionou: “Menino! Queres fazer medicina? O caminho é grande eu sei. Muitos decidem fazer por dinheiro. Mas se queres mesmo, faça! Mas faça por amor!”

De primeira não conseguiu, muito menos na segunda conquistou. Em uma sala grande, poucos iam conseguir, tampouco isso o fez desistir. Todos falavam por lá muito do amor. Será que não tinhas amor suficiente para o que sonhou?

Cento e vinte horas de trabalho por semana o faziam rir. Muito tempo sem vigor. A juventude via partir. Desta vez podia conseguir, o desespero, longo companheiro, o tomou. “Será que nunca vou conseguir? Tudo que faço é por amor.”

O dia chegou. Seu nome estampado chegou a vir. Não sabia para onde ir, muitas noites chorando de felicidade ficou. Titio, conhecido, cachorro, mamãe, papagaio, todos lhe falaram “Menino, que felicidade! Faças medicina, mas faça por amor”.

De cabelo raspado, camisa pintada e rasgada, viu acontecer todos os momentos por que muito sonhou. A família, daí em diante, pouco veria. Nova vida, muita saudade, muita alegria, muito fervor. A primeira prova logo o assustou. Não era momento de descansar, ainda muito estaria por vir. Ah! menino! Estuda muito! Estuda muito para virar doutor!

O ano, na correria, terminou. O menino-quase-doutor iria descansar, e de trabalho pouco queria ouvir. Vovó em uma festa angustiada contou: “Meu filho! Fui atendida por um doutor que nem na cara me olhou. Não queria me ouvir e nem sei como estou. Olha menino! Se queres fazer medicina de verdade, faça! Mas faça por amor!”

Semiologia estava por vir, logo iria falar com pacientes que muito pouco avistou. Identificação, queixa e duração não foram difíceis de digerir. Exame físico ainda mais o motivou. Palpação, percussão e ausculta. Ah! Dessa vez o menino iria virar doutor!

Por uma hora e quarenta à beira do leito conversou. O tempo, nem sequer notou. Paciente todo motivado lhe disse: “menino, meu filho. Tu tens o dom tenho certeza. Com muito amor consegue agir. Vai ser um bom doutor. Um ótimo doutor”.

Enquanto estudava em casa o menino se sentiu muito feliz. Estava certo de seu amor. Muitos pacientes queria ver, para poder mostrar seu amor.

O menino amadureceu. A rotina da faculdade muito o envelheceu. Sabia que ia acontecer, logo, alucinadamente, para a residência estudou. Na formatura, menino doutor vários conselhos recebeu. Muitos disseram “Menino doutor, faças medicina! Com muito amor!”

Muito tempo se passou. O menino doutor por vários empregos passou. Pacientes no corredor em agonia era rotina. Falta de condições muito o prejudicou. Falta de leitos, remédios e equipamento. Mas ah! Menino doutor! Deixa de bobeira! Tens que conseguir! Não fizestes medicina por amor?

O paciente muito para a saúde pagava, mas pouco era o que lhe chegava. Trabalhava mais, sempre trabalhou demais. Ainda trabalhava demais. Tinha de trabalhar demais. Uma rotina que o peso da idade algum dia não iria resistir. Não tinha jeito, tinha de conseguir. Menino doutor! Deixa dessas ideias! Tens que conseguir! Não fizestes medicina por amor?

Pela saúde, um dia, com vários colegas protestava. Na rua ouviu uma mulher que alto falava: “O que vocês querem? Ah esses médicos que trabalham por dinheiro. Deviam ao menos trabalhar por amor”

O jornal sem escrúpulos noticiou. “Médicos mercenários sem amor”. Mas eram melhores condições de trabalho que queriam conseguir. Na saúde queriam intervir. Nos hospitais queriam curar. Queriam a saúde melhorar. Mas que menino atrevido! Cale-se menino! Tens que trabalhar! Vai trabalhar por amor! Precisas trabalhar! Vá logo trabalhar!

Dia de muito cansaço, o menino estava acabado. Sorriso por várias horas o menino não conseguiu. O paciente saindo da consulta reclamou. “ah médicos que fazem medicina por dinheiro. Se alguém quisesse fazer medicina, deveria fazer por amor”.

Os filhos dificilmente ele encontrava. Pai sem amor era o que ele pensava. A mulher sempre reclamava quando trabalhava. A falta de tempo com os pacientes o magoava. O trânsito entre os hospitais o irritava. A grande jornada de trabalho o cansava. A falta de condições de trabalho o acabava.

E assim acabou. Essa foi a história de um menino. De um menino que nasceu sem o amor.